segunda-feira, 29 de outubro de 2012

It's Black , It's White, Whoo

A Biston betularia é uma borboleta famosa.
Esta espécie é uma habitante tradicional de bosques caducifólios em toda o Paleártico, de Portugal à Rússia e possui um padrão típico das borboletas dos seu grupo, que auxilia na camuflagem em troncos de árvores e rochas cobertas de líquenes e irregularidades. O seu padrão é bem eficiente neste contexto, pelos vistos e a sua forma em repouso não atrai grandes atenções - se poisar no sitio certo...

Biston betularia - forma tipica. Parque Natural Montesinho, Junho 2012

Como em todas as espécies, no entanto, existe uma certa variabilidade natural no padrão das asas, nomeadamente na extensão das manchas escuras. Existe na B. betularia uma forma mais escura, aliás, toda negra denominada então f. carbonaria, uma alusão à sua cor de carvão.

Em meados do séc. XIX, e no norte de Inglaterra fortemente industrializado esta forma escura tornou-se predominante sobre a forma típica. O fenómeno foi associado à perda do revestimento de líquenes nas árvores pela acumulação de fuligem e outros elementos poluentes e provenientes das fábricas, era quase impossível encontrar a forma clara!
Denominou-se este acontecimento como "melanismo industrial" em que uma forma rara (a negra) se tornou adaptativa face à forma usualmente mais comum. Apenas os individuos que passam despercebidos aos predadores sobre os troncos das árvores sobrevivem e se os troncos estariam todos negros... a associação é fácil.

Hoje em dia há muito menos poluição a este nível e a forma carbonaria é muito mais rara, mesmo na zona de Inglaterra onde era predominante no inicio do séc. XX e quase só encontramos a forma tipica.

Em Portugal nunca foi encontrada mas em Agosto passado no Alvão apareceu a borboleta mais escura que eu já tinha visto, nesta espécie no nosso país. Não é exactamente uma f. carbonaria mas mesmo assim tem o seu interesse.

Biston betularia - forma escura. Parque Natural do Alvão, Agosto 2012

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A confusão vai-se dissipando


As novas tecnologias e metodologias na área da genética e novos métodos de inferência filogenética têm permitido grandes avanços no conhecimento. Contudo, para a maioria de vós pode parecer que existe uma grande confusão a este nível, o das espécies e dos géneros e os grupos que criamos para explicar a diversidade.

Tomei conhecimento há um par de dias de um artigo notável que usando cerca de 6 genes diferentes cria uma pequena revolução no que conhecemos dos licenídeos azuis.

O artigo está aqui: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1096-0031.2012.00421.x/abstract

Conclusões relevantes para a nossa fauna:

1) Eumedonia eumedon é claramente distinta das espécies de Aricia.
2) Cyaniris semiargus continua distinta de Polyommatus
3) Os autores verificaram que a nossa bellargus pertence a um grupo que se diferenciou dos Polyommatus há mais de 5 milhões de anos e separam-na: fica Lysandra bellargus