quarta-feira, 14 de novembro de 2012

"A Maravilha do dia"

A "maravilha do dia" terá de ser esta borboleta que voa no Outono pelos bosques caducifólios europeus, não se aventurando para aqueles de influência mais mediterrânica.


Dichonia aprilina - Parque Natural Sintra-Cascais. Novembro 2012

A Dichonia aprilina, assim denominada cientificamente é uma bela espécie com uma cor fantástica verde clara e o padrão negro confere-lhe uma camuflagem impressionante nos troncos cobertos de musgo e líquenes e onde passa despercebida à maioria dos predadores.


Dichonia aprilina - Parque Nacional Peneda Gerês, Novembro 2012. Camuflada num tronco coberto de líquenes.

Uma borboleta assim só podia ser denominada pelos ingleses "Merveille du Jour", é um nome francês mas não usado por eles, apenas em Inglaterra... coisa estranha.

É mais uma jóia a proteger:
- da destruição dos nossos bosques autóctones para plantação de monoculturas de exóticas
- dos efeitos das alterações climáticas
- da proliferação de espécies exóticas invasoras
- da falta de conhecimento de todos nós pela nossa Natureza.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

It's Black , It's White, Whoo

A Biston betularia é uma borboleta famosa.
Esta espécie é uma habitante tradicional de bosques caducifólios em toda o Paleártico, de Portugal à Rússia e possui um padrão típico das borboletas dos seu grupo, que auxilia na camuflagem em troncos de árvores e rochas cobertas de líquenes e irregularidades. O seu padrão é bem eficiente neste contexto, pelos vistos e a sua forma em repouso não atrai grandes atenções - se poisar no sitio certo...

Biston betularia - forma tipica. Parque Natural Montesinho, Junho 2012

Como em todas as espécies, no entanto, existe uma certa variabilidade natural no padrão das asas, nomeadamente na extensão das manchas escuras. Existe na B. betularia uma forma mais escura, aliás, toda negra denominada então f. carbonaria, uma alusão à sua cor de carvão.

Em meados do séc. XIX, e no norte de Inglaterra fortemente industrializado esta forma escura tornou-se predominante sobre a forma típica. O fenómeno foi associado à perda do revestimento de líquenes nas árvores pela acumulação de fuligem e outros elementos poluentes e provenientes das fábricas, era quase impossível encontrar a forma clara!
Denominou-se este acontecimento como "melanismo industrial" em que uma forma rara (a negra) se tornou adaptativa face à forma usualmente mais comum. Apenas os individuos que passam despercebidos aos predadores sobre os troncos das árvores sobrevivem e se os troncos estariam todos negros... a associação é fácil.

Hoje em dia há muito menos poluição a este nível e a forma carbonaria é muito mais rara, mesmo na zona de Inglaterra onde era predominante no inicio do séc. XX e quase só encontramos a forma tipica.

Em Portugal nunca foi encontrada mas em Agosto passado no Alvão apareceu a borboleta mais escura que eu já tinha visto, nesta espécie no nosso país. Não é exactamente uma f. carbonaria mas mesmo assim tem o seu interesse.

Biston betularia - forma escura. Parque Natural do Alvão, Agosto 2012

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A confusão vai-se dissipando


As novas tecnologias e metodologias na área da genética e novos métodos de inferência filogenética têm permitido grandes avanços no conhecimento. Contudo, para a maioria de vós pode parecer que existe uma grande confusão a este nível, o das espécies e dos géneros e os grupos que criamos para explicar a diversidade.

Tomei conhecimento há um par de dias de um artigo notável que usando cerca de 6 genes diferentes cria uma pequena revolução no que conhecemos dos licenídeos azuis.

O artigo está aqui: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1096-0031.2012.00421.x/abstract

Conclusões relevantes para a nossa fauna:

1) Eumedonia eumedon é claramente distinta das espécies de Aricia.
2) Cyaniris semiargus continua distinta de Polyommatus
3) Os autores verificaram que a nossa bellargus pertence a um grupo que se diferenciou dos Polyommatus há mais de 5 milhões de anos e separam-na: fica Lysandra bellargus


terça-feira, 21 de agosto de 2012

Butterfly love

If you're more analytical, you get to realize that butterflies are just insects, like many others in many ways including so many legs! And they do the same sound when crushed! And they often become pests in agriculture contexts!!
But in spite of this, butterflies are much more appreciated by people, probably because the bright colours of many, or it is because they are not usually predators and eat veggies most of their lives? Anyway, they can most often be used as flagships for conservation and are among the best indicators of what is going around us: if they disappear others will follow!

Here butterflies are a flagship for love too, which I tried to picture in the best way is more butterflies in the making by a nice little butterfly with a romantic name evoking the roman god Cupid! Enjoy love, enjoy life, enjoy butterflies and don't let them go away!

Cupido minimus
Trás-os-Montes, Portugal
May 2012

domingo, 22 de julho de 2012

Clown moth!

Atlantarctia tigrina (Erebidae, Arctiinae)
Bragança, Portugal.
Maio 2012

sexta-feira, 13 de julho de 2012

pela Andaluzia em Julho

A Andaluzia é a região autónoma mais a sul de Espanha e a segunda maior em área e população, mais de 8 milhões de pessoas.
Aqui também podemos encontrar uma das maiores concentrações de espécies em toda a Europa. É que a Andaluzia encontra-se apenas separada de África por 14km de estreito de Gibraltar, possui uma imensamente variada topografia, geologia e clima e poderemos encontrar desde zonas de clima subtropical seco (em Almería chovem menos de 300mm anualmente, o local mais seco da Europa) a bosques sub-húmidos de abetos (em Grazalema) ou pradarias criófilas alpinas na Serra Nevada, passando por todos os estádios intermédios. Aqui existem espécies típicas de climas mais frios que encontram refúgio nas serras, principalmente da cordilheira a sul da falha do rio Guadalquivir mas também espécies que têm a sua origem ou grosso da distribuição no norte de África!

Ora bem, quanto às borboletas esta vasta região é uma das mais importantes a nível Europeu tanto pelo número de espécies como (e principalmente) pelas espécies que aqui ocorrem mas em mais nenhum outro lugar. É que apesar de tudo as suas montanhas estão isoladas da maioria das outras na Europa. O sistema central está mais perto dos Pirinéus, estes da cordilheira cantábrica mas também do maciço central francês e dos Alpes e dos Cárpatos e do Cáucaso... mas as serras Nevada, Maria, Filabres, Cazorla, Sagra, etc. estão de facto isoladas por terras bem quentes e secas... Nem nos máximos glaciais (em que fez consideravelmente mais frio) haveria uma grande continuidade para as zonas favoráveis europeias. Isto proporcionou que o que tivesse lá chegado, ali evoluísse em franco isolamento, tudo é aqui ligeiramente diferente do que existe pela Europa fora... e muitas vezes partilha mesmo mais afinidades com as espécies nas montanhas do norte de África! É uma zona fantástica que importa preservar.

No inicio de Julho tive a oportunidade de fazer um raide de 7 dias pela Andaluzia e assim fotografar algumas das suas borboletas especiais. Não consegui ver muitas delas mas cá ficam algumas:

A zona do cume da Sierra Nevada é agreste e por estar coberta de neve 8 meses por ano a sua  biodiversidade rica em endemismos apenas mostra o seu esplendor entre Junho e Agosto. Aqui o Pico Veleta, com mais de 3000m de altitude. Nos matos baixos psico-xerófilos crio-oromediterrânicos podemos encontrar algumas espécies endémicas como Polyommatus golgus, Erebia hispania ou Parnassius apollo nevadensis.

Polyommatus golgus - endémica do topo da Serra Nevaa, afim à Europeia P. dorylas.


Erebia hispania - outra endémica que aqui podemos encontrar na Sierra Nevada. Espécie afim à Alpina Erebia cassioides. Se na faqce superior é bastante colorida e se evidenciam os ocelos, na face inferior confunde-se perfeitamente com o substrato de xistos pré-Câmbricos do topo da serra.

Coenonympha dorus - Espécie omnipresente durante a minha viagem pela Andaluzia em zonas de bosque mediterrânico algo sombrio e pedregoso. Em comparação com as do oeste da península, os ocelos destas eram enormes!

Zygaena trifolii - apenas encontrei esta espécie nas nascentes e prados húmidos acima dos 1400m na Sierra Nevada, já que é uma espécie higrófila.

Nas escassas zonas húmidas juntava-se um grande número de borboletas, entre as quais a quase omnipresente Melanargia lachesis

E a Aricia montensis, uma espécie de montanha do complexo da Aricia artaxerxes que facilmente confundimos com a Aricia cramera, mais pequena e de asas menos afiladas.


Já na província de Almeria, em ambiente muitissimo mais seco e de carácter subtropical é impossível não comparar estas pastagens dominadas por Stipa tenacissima e Zizyphus lotus a muitas zonas que encontramos em Marrocos. De facto é aqui que encontramos por exemplo a Tarucus theophrastus, uma espécie africana que tem nesta zona e regiões colindantes o seu único habitat europeu.

Tarucus theophrastus - espécie norte-africana que na Península Ibérica está limitada às zonas mais secas do sudeste.

Aqui também é onde ocorre um endemismo interessante, a cigarra Tettigettalna helianthemi helianthemi.

terça-feira, 19 de junho de 2012

A jóia rubra chamada Zygaena nevadensis

Zygaena nevadensis
Bragança, Portugal
Junho 2012

A Z. nevadensis é uma espécie que em Portugal apenas aparece em um par de bolsas de populações, isoladas e este padrão repete-se por toda a sua área de distribuição entre Portugal e o Sul de França e Marrocos. Está estreitamente ligada à planta de que se alimenta na fase larvar (e também adulta!), espécies de Vicia no grupo cracca/ tenuifolia que crescem em prados algo húmidos, clareiras florestais e caminhos algo sombrios.
Em Portugal pode ser encontrada perto de Bragança e no nordeste da Serra da Estrela, perto da Guarda e está, julgo eu, ameaçada pela perda de habitat e alteração das práticas agrícolas tradicionais.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Aricia eumedon: No seu cantinho especial... resiste.


 No âmbito da Europa continente, Portugal é um país periférico longe não só do centro geográfico e político actual mas ainda (mais) da grande fonte de biodiversidade que é a Ásia. Além do mais, está distante de qualquer das grandes zonas geradoras de biodiversidade que são as zonas tropicais, apesar de aqui em Portugal existir um dos climas mais amenos da Europa.

 A nossa biodiversidade ibérica é o resultado da dinâmica muito particular entre o efeito do isolamento geográfico em relação ao resto do território europeu (uma península, com uma grande barreira montanhosa, os Pirinéus, entre nós e a Europa), as alterações climáticas que têm vindo a suceder-se desde o final do Terciário (há 5 milhões de anos), a própria heterogeneidade altitudinal, geológica e de habitats (onde se inclui a influência do Homem) e alguma estocasticidade... ou se quiserem, a sorte!

 É certo que com pesos diferentes em cada altura mas estes factores são decisivos para que a lista de espécies de uma determinada área seja um processo nunca acabado, fluido e apenas instantâneo (se é que a lista total é possível). É que aquilo que consideramos espécies não só é um conceito fluido, sobre o qual alongar-me não é o objectivo como a sua distribuição pulsa ao sabor da alteração dos habitats, das outras espécies, do clima e de novas oportunidades.
 Se por um lado sabemos que existem espécies oportunistas que têm uma grande capacidade de dispersão e colonização do espaço, particularmente espaços abertos e alterados mas muitas espécies especializaram-se em determinadas condições bióticas muito específicas, por vezes condições difíceis de replicar mas onde elas maximizam a sua sobrevivência.


 Entre os exemplos e mais uma vez no mundo das borboletas em Portugal, temos uma das mais raras e localizadas borboletas no nosso país, a Aricia eumedon.

  Tanto quanto parece, em Portugal apenas podemos encontrá-la nas altitudes mais elevadas da serra da Nogueira, perto de Bragança enquanto está distribuída um pouco por toda a Europa até ao leste da Ásia. Contudo, é uma espécie sempre local em populações isoladas umas das outras, aparecendo preferencialmente bosques naturais relativamente húmidos onde haja a planta alimentícia das lagartas em abundância: gerânios perenes do género Geranium.

 Na Serra da Nogueira podemos encontrá-la em Maio e Junho na orla e clareiras do belo carvalhal de Quercus pyrenaica que apresenta o seu expoente máximo nesta zona do país e é também um repositório, um refúgio para muitas outras espécies.
 Em Portugal e por toda a Península a sua distribuição deve ter sido mais alargada no passado, antes do retrocesso dos bosques densos e naturais das zonas serranas e a xerofitização potenciada pelos diversos usos que o Homem deu à floresta.

 Quanto à planta alimentícia, em Portugal é obrigatoriamente o Geranium sanguineum (já que é uma das duas únicas espécies de Geranium perenes de Portugal), uma espécie de distribuição também Eurosiberiana disseminada pela metade norte e alguns enclaves mais atlânticos no sudoeste do país e a borboleta desenrola todo o seu ciclo de vida em torno desta planta!
Não só apenas deposita os ovos nela e as lagartas se alimentam das suas flores como as borboletas adultas quase só se alimentam do nectar das suas flores e aí também se poisam nas alturas de tempo mais adverso! Uma dependência completa que importa preservar mas que a cada ano é mais ameaçada pela perda de habitat disponível em virtude dos incêndios e inadequada gestão florestal e isolamento da população em causa.
Contudo, parece que para já, se as coisas não se alterarem muito no seu pequeno cume, na sua bela Serra coberta de carvalho-negral assente sobre um mosaico de rochas ultrabásicas e xistos verdes a sua sobrevivência está assegurada.

terça-feira, 22 de maio de 2012

O dromedário enferrujado


Notodonta dromedarius
Parque Natural de Montesinho
Maio 2012

Esta espécie, que é uma raridade em Portugal, ocorrendo apenas no extremo norte do país, tem um curioso nome. O epíteto específico "dromedarius" pareceria um nome desadequado para uma borboleta, alguém lhe encontraria parecenças com esse animal tão familiar adaptado ao deserto? É que a borboleta nem acumula reservas de alimento por aí além, apesar de não se alimentar na fase adulta e toda a energia que gasta ter sido acumulada enquanto lagarta.
Ora, é apelidada de "dromedarius" justamente por causa da lagarta que na sua fase mais desenvolvida ostenta umas curiosas protuberâncias na zona dorsal que lembram bossas! Os entomólogos até são bastante criativos! ;)
O nome inglês desta borboleta é mais adequado ao insecto perfeito, já que é apelidada de "Iron Prominent", em virtude da sua cor de ferro enferrujado quiçá!

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Polyommatus amandus... where is it?


Pair of Amanda Blues in copula, picture taken in Greece, 2011.

Among the many brightly coloured little blue butterflies found in mountain meadows the Amanda blue, Polyommatus (Agrodiaetus) amandus is one of the largest. It is indeed a handsome species dwarfing most others and clearly standing out with a deep blue upperside and faint markings on the underside. It is found in much of Europe but not being a truly mountain species and favouring rather mesic meadows with Vicia spp. (the foodplants) one would suppose it would be found in Portugal too, albeit only in the north would it be able to thrive.
So far, there are no reliable records for the country but year after year as more work is undertaken in the neighbour spanish province of Galicia, new records approaching the portuguese territory may indicate the species is around, albeit probably very local and overlooked!
So this 2012 I call everyone interested in observing butterflies in Portugal to go to the field and try finding this beauty.