A Primavera é por excelência a estação das flores. Após um inverno mais ou menos frio, em que a biodiversidade se encontra como que em vida suspensa, a chegada da Primavera e as suas temperaturas amenas fazem desabrochar as flores enquanto os insectos atarefados só se ocupam da sua própria reprodução e acumular combustível para o fazer!
É então uma oportunidade para fotografar algumas das criações mais singulares da Natureza: a forma como as Angiospérmicas evoluiram aproveitando os insectos (e outros animais em menor medida) para se disseminarem pelo globo e assim se diversificarem é notável, a diversidade é notável e não deixarão o naturalista mais atento indiferente!
Cá vai uma pequena amostra... espero que gostem :D
Fritillaria lusitanica (Liliaceae) - espécie endémica da Península Ibérica, cresce em zonas de matagal e prados mediterrânicos. PN Sintra-Cascais.
Platycapnos spicata (Papaveraceae) - Nativa de campos agrícolas e pousios sobre solos algo básicos na Península Ibérica, Norte de África e Macaronésia preenche-os de cor na Primavera. Parece uma "Fumaria de flores condensadas". Estremoz.
Matthiola fruticulosa (Cruciferae) - Goivo selvagem encontrado em zonas pedregosas entre Portugal e França. P N da Arrábida.
Narcissus bulbocodium (Amaryllidaceae)- Também endémico da área entre Portugal e França é um abundante narciso que floresce a partir do final do Inverno. Peniche.
Ophrys algarvensis (Orchidaceae) - Rara orquídea endémica do Algarve a isoladas localidades na Andaluzia espanhola, sendo calcícola e estando presente em populações discretas na faixa algarvia do barrocal. Algarve.
Dipcadi serotinum (Liliaceae) - Curiosa liliácea que floresce a partir da Primavera em zonas pedregosas mediterrânicas. As flores parecem de plástico! Beja.
Tuberaria guttata (Cistaceae) - Ao contrário das estevas, arbustos bem vistosos e perenes esta espécie é anual e o seu periodo vegetativo é bem mais efémero mas coroam os prados mediterrânicos xerotermófilos de um colorido intenso! Moura.
Lathyrus cicera (Fabaceae) - Uma ervilheira selvagem típica de prados mais ou menos mésicos em ambiente mediterrânico mas distribuida por toda a Europa e Médio Oriente. A cor salmão das flores é típica. Vila Franca Xira.
domingo, 17 de abril de 2011
quarta-feira, 13 de abril de 2011
Flightless (extremelly rare) iberian meadow mantis
Apteromantis aptera is one of the rarest mantis species in Europe. In fact, it is strictly endemic to a few areas in the south of the Iberian Peninsula where it is a meadow species, hopping pretty much like a grasshopper and thus overlooked by most naturalists.
We could find a new population of this Near Threatened and covered by Annex II of the Bern Convention species last weekend in a biodiversity rich area in Baixo Alentejo, Southern Portugal.
As far as I know, there are only about half a dozen records from Portugal and this adds a little more data to the known distribution of this very rare species.
Apteromantis aptera
More info about it and first reference for the species in Portugal here
We could find a new population of this Near Threatened and covered by Annex II of the Bern Convention species last weekend in a biodiversity rich area in Baixo Alentejo, Southern Portugal.
As far as I know, there are only about half a dozen records from Portugal and this adds a little more data to the known distribution of this very rare species.
Apteromantis aptera
More info about it and first reference for the species in Portugal here
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quarta-feira, 6 de abril de 2011
Natrix maura
Head close-up of a Viperine-snake
Natrix maura at Monfurado, Alentejo, Portugal.
Native to western mediterranean countries (Portugal, Spain, France, Switzerland, Italy, Morocco, Algeria, Tunisia and Libya) and introduced to England, the Viperine-snake is an inhabitant of temporary water bodies like streams and ponds with a good vegetation cover in thermophilous situations.
Typical habitat: mediterranean temporary stream with lush vegetation: Herdade do Esporão, Alentejo, Portugal.
This species is usually found during the day basking on the edge of their watery habitats or seen hunting in the water where they capture mostly fish, tadpoles and insects.
Viperine-snake hunting at Grândola, Alentejo, Portugal.
sábado, 2 de abril de 2011
O que é uma espécie?
Esta pergunta tem andado nas bocas de quem se interessa pela Natureza e pela Evolução um pouco desde sempre, mesmo quando não se pensava formalmente em evolução e mesmo quando apenas encarávamos a Natureza como algo lá forma que podiamos utilizar apenas para nosso bel-prazer.
Acontece que o conceito de espécie não é único e varia consoante o grupo que estudamos, varia consoante o isolamento das populações, o seu papel ecológico e mesmo o ambiente político das populações humanas! É verdade, é em grande maioria subjectivo já que é uma concepção essencialmente humana... Sim, existem entidades biológicas na Natureza, que trocam material genético e procuram a sobrevivência das suas moléculas indefinidamente e geralmente não o fazem com outras muito diferentes mas não só os acasos acontecem como por vezes são vantajosos (se bem que a ciência nos diz que raramente, mais em plantas que em animais, mais nuns que noutros)!
Os cientistas gostam de rotular tudo, aliás, todos nós o gostamos um pouco, já que a nossa mente funciona melhor a compartimentalizar, individualizar e identificar para depois relacionar conceitos. Mas a verdade é que os seres vivos não parecem funcionar tanto assim e talvez definissemos a biodiversidade mais como um contínuo em que existem decerto solavancos (onde o contínuo é menos aparente) nas relações entre cada entidade (o indivíduo, a população, o conjunto de populações que definem a espécie?). Esses solavancos são importantes e geralmente chamamos espécies mas como disse, o conceito varia com o que estudamos.
Este paleio todo vem relacionado com um grupo que me tem despertado interesse recentemente: as orquídeas.
A família Orchidaceae é uma das famílias de plantas com maior diversidade mundial, mais de 20 000 espécies fundamentalmente tropicais mas um pouco por todo o mundo e com uma história evolutiva das mais interessantes: a estreita relação com os seus polinizadores. A sua dinãmica ecológica implica que estão sujeitas a pressões selectivas muito intensas e essa evolução vê-se mais facilmente onde essa pressão é mais intensa: nas flores.
Algumas das flores das orquídeas mais interessantes são as do género Ophrys, as orquídeas-abelha que como o nome indica, não só se assemelham a insectos como o seu objectivo é atrair alguma espécie em particular ou um grupo em geral, dependendo da espécie. Estas orquídeas não produzem néctar e por isso têm de ser mesmo muito convincentes já que os insectos não caem muitas vezes na mesma esparrela. É esta pressão intensa de sobrevivência que faz com que as orquídeas se apresentem tão variáveis nos seus padrões e sejam um pesadelo para os biólogos e naturalistas que querem rotular tudo ao máximo, e daí o conceito de espécie.
O motivo para esta prosa toda está relacionado com a imagem seguinte, que sugiro que seja apreciada pelo menos durante um minuto inteiro, com atenção aos detalhes:
Ophrys spp. grupo fusca-subfusca.
Trata-se de uma compilação de 10 fotos representando 5 indivíduos diferentes de orquídeas do grupo Ophrys fusca fotografadas na região de Palmela em 30 Março 2011, todas na mesma área de cerca de 20m2!
Factos e coisas:
1) Para alguns autores estamos perante uma única espécie muito variável, Ophrys fusca.
2) Para outros, na foto estariam representadas 3 espécies diferentes: O. lucentina (1 e 2); O. lupercalis (3 e 4) e O. fusca.
3) Para outros, O. lupercalis é apenas uma subespécie de O. fusca.
4) Julgo não haver estudos quanto aos polinizadores mas parece-me dificil que a existência destas formas todas numa população esteja relacionada com contactos secundários em vez de um polimorfismo natural de uma espécie. Simplesmente algumas populações serão mais monomórficas que outras (por deriva genética, por efeito-gargalo...) e estarão mais perto da fixação de alguns alelos.
5) Estudos genéticos de 2005 indicam que não existe diferenciação genética entre qualquer uma destas formas mas consistentes diferenças morfológicas entre lucentina e as outras, que nalgumas análises aparecem individualizadas segundo a concepção das 3 espécies (e outras mais).
Organizei as fotos de modo a aparentar a existência de um gradiente... não vos é aparente também? Em que ficamos? Eu queria mesmo rotular tudo mas a ideia de pensar neste grupo em plena evolução e em todo o dinamismo que revela parece-me muito mais interessante nisto de fruir a Natureza!
Acontece que o conceito de espécie não é único e varia consoante o grupo que estudamos, varia consoante o isolamento das populações, o seu papel ecológico e mesmo o ambiente político das populações humanas! É verdade, é em grande maioria subjectivo já que é uma concepção essencialmente humana... Sim, existem entidades biológicas na Natureza, que trocam material genético e procuram a sobrevivência das suas moléculas indefinidamente e geralmente não o fazem com outras muito diferentes mas não só os acasos acontecem como por vezes são vantajosos (se bem que a ciência nos diz que raramente, mais em plantas que em animais, mais nuns que noutros)!
Os cientistas gostam de rotular tudo, aliás, todos nós o gostamos um pouco, já que a nossa mente funciona melhor a compartimentalizar, individualizar e identificar para depois relacionar conceitos. Mas a verdade é que os seres vivos não parecem funcionar tanto assim e talvez definissemos a biodiversidade mais como um contínuo em que existem decerto solavancos (onde o contínuo é menos aparente) nas relações entre cada entidade (o indivíduo, a população, o conjunto de populações que definem a espécie?). Esses solavancos são importantes e geralmente chamamos espécies mas como disse, o conceito varia com o que estudamos.
Este paleio todo vem relacionado com um grupo que me tem despertado interesse recentemente: as orquídeas.
A família Orchidaceae é uma das famílias de plantas com maior diversidade mundial, mais de 20 000 espécies fundamentalmente tropicais mas um pouco por todo o mundo e com uma história evolutiva das mais interessantes: a estreita relação com os seus polinizadores. A sua dinãmica ecológica implica que estão sujeitas a pressões selectivas muito intensas e essa evolução vê-se mais facilmente onde essa pressão é mais intensa: nas flores.
Algumas das flores das orquídeas mais interessantes são as do género Ophrys, as orquídeas-abelha que como o nome indica, não só se assemelham a insectos como o seu objectivo é atrair alguma espécie em particular ou um grupo em geral, dependendo da espécie. Estas orquídeas não produzem néctar e por isso têm de ser mesmo muito convincentes já que os insectos não caem muitas vezes na mesma esparrela. É esta pressão intensa de sobrevivência que faz com que as orquídeas se apresentem tão variáveis nos seus padrões e sejam um pesadelo para os biólogos e naturalistas que querem rotular tudo ao máximo, e daí o conceito de espécie.
O motivo para esta prosa toda está relacionado com a imagem seguinte, que sugiro que seja apreciada pelo menos durante um minuto inteiro, com atenção aos detalhes:
Ophrys spp. grupo fusca-subfusca.
Trata-se de uma compilação de 10 fotos representando 5 indivíduos diferentes de orquídeas do grupo Ophrys fusca fotografadas na região de Palmela em 30 Março 2011, todas na mesma área de cerca de 20m2!
Factos e coisas:
1) Para alguns autores estamos perante uma única espécie muito variável, Ophrys fusca.
2) Para outros, na foto estariam representadas 3 espécies diferentes: O. lucentina (1 e 2); O. lupercalis (3 e 4) e O. fusca.
3) Para outros, O. lupercalis é apenas uma subespécie de O. fusca.
4) Julgo não haver estudos quanto aos polinizadores mas parece-me dificil que a existência destas formas todas numa população esteja relacionada com contactos secundários em vez de um polimorfismo natural de uma espécie. Simplesmente algumas populações serão mais monomórficas que outras (por deriva genética, por efeito-gargalo...) e estarão mais perto da fixação de alguns alelos.
5) Estudos genéticos de 2005 indicam que não existe diferenciação genética entre qualquer uma destas formas mas consistentes diferenças morfológicas entre lucentina e as outras, que nalgumas análises aparecem individualizadas segundo a concepção das 3 espécies (e outras mais).
Organizei as fotos de modo a aparentar a existência de um gradiente... não vos é aparente também? Em que ficamos? Eu queria mesmo rotular tudo mas a ideia de pensar neste grupo em plena evolução e em todo o dinamismo que revela parece-me muito mais interessante nisto de fruir a Natureza!
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