terça-feira, 8 de março de 2011

Euchloe tagis: muito mais que apenas uma borboleta branca.

No início de Março, quando os primeiros raios de sol primaveris fazem despontar as primeiras flores de rosmaninho, as orquídeas mais singulares e aquecem as encostas das serras calcárias de Portugal surge uma pequena borboleta branca a voar nervosamente nas cumeadas e nas zonas de matagal mediterrânico mais bem conservado, a Branca-Portuguesa, a Euchloe tagis.



Esta borboleta diurna é aparentada com outras espécies conhecidas em Portugal como as borboletas da couve (género Pieris), a Maravilha (Colias croceus) ou a
Cleópatra (Gonepteryx cleopatra) que vemos habitualmente a voar nos nossos campos.



O que torna esta borboleta tão especial entre as cerca de 2500 espécies que existem no nosso país é o facto interessante de ter sido descrita pela primeira vez para a ciência segundo exemplares encontrados em Portugal, mais especificamente na península de Setúbal no final do século XVII!
Depois, foi descoberta em colónias sempre isoladas entre Portugal e o noroeste de Itália, sendo ainda conhecidas duas populações em Marrocos e outra na Argélia.


Distribuição mundial de E. tagis.

Curiosamente, durante perto de 200 anos até 2007, a Branca-Portuguesa apenas foi observada com alguma regularidade na Serra da Arrábida, a sua biologia em Portugal era praticamente desconhecida e é considerada “Em Perigo de Extinção” no mais recente livro As borboletas de Portugal, de Ernestino Maravalhas.

Em 2007 foi descoberta noutras três Serras portuguesas onde predominam substratos bem consolidados de origem sedimentar e que ainda apresentam algum matagal mediterrânico bem desenvolvido. Estas são a Serra da Adiça, no interior do Baixo Alentejo; as elevações calcárias do Anticlinal de Estremoz, entre Sousel e Vila Viçosa e no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros.


Serra da Adiça, habitat de E. tagis.


Colinas cobertas de matagal mediterrânico bem desenvolvido: Estremoz.

A Euchloe tagis é uma especialista ecológica que depende não só dos solos calcários como as suas lagartas apenas utilizam algumas plantas para o seu desenvolvimento: as
Assembleias (da família das Cruciferas, couves e afins) pertencentes ao género Iberis, que em Portugal possui três espécies.


Iberis procumbens microcarpa: endemismo português, planta alimentícia de E. tagis tagis.

Os habitats onde ocorre esta borboleta são muito ricos em biodiversidade, o que é facilmente comprovado com um passeio em qualquer destas serras: à notável diversidade
florística, onde se destacam as espécies aromáticas como alecrim, rosmaninho, tomilhos e madressilvas e as espécies mais singulares (e endémicas) de orquídeas há que associar uma enorme riqueza em animais que vão desde os milhares de espécies de insectos aos mais conhecidos Lince Ibérico(que possivelmente partilha o seu habitat com a E. tagis na Serra da Adiça) e muitas espécies de aves de rapina.

Contudo, à semelhança de muitas outras espécies, os principais factores de ameaça às suas populações centram-se nas alterações ao uso do solo e consequente perda e
degradação de habitats. A urbanização crescente é um problema sério apontado como o principal motivador da extinção de algumas populações perto de Almada no séc XX
mas o advento recente da olivicultura intensiva no Alentejo com recurso a cultivares de intensa produção mas exigentes em herbicidas e pesticidas coloca em risco importantes manchas de habitat e a prevalência desta espécie na Serra da Adiça e na zona de Vila Viçosa e Estremoz. Finalmente, um factor de coacção importante é o desempenhado pelas explorações de inertes como os calcários e os mármores, de importância relevante no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros e principalmente no Anticlinal de Estremoz.
Aqui, as pedreiras a céu-aberto são tão abundantes que os habitats propícios à espécie são agora exíguos e fragmentários.



O valor desta borboleta para os ecossistemas reside no facto de ser um bom bio-indicador de qualidade e sustentabilidade porque é sensível às alterações operadas sobre os seus habitats e responde muito rapidamente a elas. Ao conservarmos esta espécie estamos a conservar um legado e um ecossistema que alberga muitas outras espécies de valor incalculável.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Orchis collina

Se no final do inverno ou no princípio da primavera nos aventurarmos pelos caminhos ou nos sentarmos nas clareiras pedregosas da Serra da Adiça, no Baixo Alentejo profundo é possível que nos deparemos com uma das mais raras orquídeas em Portugal: a Orchis collina.

Orchis collina - hábito.

O seu pequeno porte e coloração lilás rosada fazem com que passe facilmente despercebida entre o denso matagal mediterrânico com elevado valor de conservação que cobre esta serra que se avista desde Beja ou Moura no horizonte. Obviamente que quando pensamos em orquídeas, rapidamente nos vêm à mente as enormes flores tropicais que vemos nas lojas ou nos jardins botânicos mas as orquídeas portuguesas não são menos espectaculares e a Orchis collina é mais um exemplo disso mesmo: a complexa estrutura das suas flores exige uma polinização realizada por determinados insectos mas a sua estratégia baseia-se no puro engano: possui cores atraentes, uma ampla plataforma de aterragem mas… não produz néctar! O pólen adere à cabeça da frustrada abelha, escaravelho ou borboleta que ao visitar outra orquídea a irá polinizar.

Pormenor da inflorescência.

A Orchis collina é uma espécie típica de colinas calcárias bem soleadas um pouco por toda a bacia mediterrânica mas em Portugal apenas pode ser encontrada na Serra da Adiça, de onde se conhece apenas desde 1992. É uma espécie rara, pouco conspícua e de difícil localização e a curta janela temporal em que a podemos encontrar em flor, de Janeiro a Março não ajuda ao maior conhecimento sobre ela.


O. collina f. flavescens - A forma hipocromática desta espécie é ainda mais rara.

O que sabemos, contudo, é que os habitats onde ocorre são também extremamente ricos em biodiversidade. A Serra da Adiça constitui um conjunto de elevações que se destacam claramente na peneplanície alentejana e o seu substrato calcário e formação de microclimas específicos consoante a orientação e disponibilidade de água permitem a existência de um grande número de espécies em que muitas delas são raras em Portugal. A diversidade de orquídeas é notável já que aqui ocorrem mais de 21 espécies diferentes, os insectos estão por todo o lado e aqui ocorre uma das quatro únicas populações nacionais da borboleta Branca-Portuguesa (Euchloe tagis) e é um dos últimos locais em Portugal onde ainda pode aparecer o Lince-Ibérico (Lynx pardinus).

Panorâmica da Serra da Adiça

Se querem saber mais sobre este local fantástico visitem o blog Serra da Adiça da autoria de Ivo Rodrigues, o seu maior conhecedor e especialista em orquídeas, asseguro-vos que vale a pena.

A Serra da Adiça, as suas orquídeas, fauna e flora estão ali, à espera de ser descobertas por cada um de nós, venha daí!

quarta-feira, 2 de março de 2011

In love with yourself






"Got your tummy full of love
Because you ate it
It hurts when you talk
And you dwell on it"


Acacia longifolia (Fabaceae)
Portugal

Acacia derives from the greek Akis, spiny or thorny, given that the majority of species, especially african are thorny trees.
A. longifolia is a south australian species acclimatised in Portugal and South Africa where it is highly invasive in sandy areas and disturbed ground and favoured by fire outbreaks outcompeting most native species.
Further, they produce allelopathic substances that inhibit the growth of other plants around their root system, preventing competition.