Em 2001 ainda não armadilhava para borboletas nocturnas.
Não tinha nem a lâmpada, nem o lençol, nem a maioria dos livros ou fontes de informação que pululam por todo o lado. Eram tempos mais difíceis em que o secundário não me deixava ir tanto para o campo senão nas férias escolares. Mas não era por isso que não via borboletas.. só via muito menos. :)
Nessas férias do Verão, passei os meus primeiros dias na zona serrana imediatamente a sul do rio Vouga, entre Aveiro e Viseu, ilha temperada na matriz mediterrânica do centro de Portugal e local de imenso interesse lepidopterológico.
Os meus dias, foram passados a apanhar borboletas com uma pequena rede de aquário, daquelas pequenas, verdes. Tarefa árdua... olhando para trás, admiro a minha capacidade e paciência.
De noite, frequentava as luzes da aldeia em busca de borboletas poisadas que eram atraídas pelas mesmas e escapavam aos morcegos habituados a tão constante alimentador.
Certa noite de Agosto apanhei uma borboleta que viria a ser das minhas primeiras "malhas". Inicialmente identifiquei-a, Abraxas sylvata (é relativamente fácil de distinguir das aparentadas) mas a informação era fragmentária em Portugal e não me apercebi da sua importância.
Anos mais tarde, em conversa com o Martin Corley referi essa espécie com a maior naturalidade, como já a tendo observado. Ele levantou a sobrancelha e perguntou-me se eu tinha mesmo a certeza que seria a Abraxas sylvata e não a bem abundante Abraxas pantaria. É que a A. sylvata seria nova para Portugal, à altura só se conhecia dos Pirinéus e País Basco! Eu disse-lhe que tinha a certeza mas tinha de confirmar. De volta a Lisboa, fui procurar na minha colecção por tão importante bicho só que a mesma fora atacada por pequenos terroristas, psocópteros que comem tudo o que é orgânico e nutritivo. Ela estava toda partida, asas separadas do resto mas tinha a confirmação. Mas nunca mais voltou a ser encontrada em Portugal, apesar de ser uma espécie de moderadas dimensões e de haver tanta malta no norte do país às borboletas, actualmente.
Este ano, já dotado de toda a parafernália adequada, voltei mais vezes ao local e no início de Agosto, como em 2001, ela voltou a aparecer! Uma visão estupenda por ser um bicho bonito, por ser a confirmação da existência de uma população, 14 anos depois e por ainda ser o único local em Portugal de onde é conhecida... e no meu quintal! Ei-la.
Abraxas sylvata
Ribeiradio, Viseu
Agosto 2015
Esta espécie foi originalmente publicada, para Portugal, em:
Corley M.F. V, Marabuto E., & Pires P. (2007) New Lepidoptera for the fauna of Portugal (Insecta: Lepidoptera). SHILAP Revista de Lepidopterología, 35, 321–334.
Não tinha nem a lâmpada, nem o lençol, nem a maioria dos livros ou fontes de informação que pululam por todo o lado. Eram tempos mais difíceis em que o secundário não me deixava ir tanto para o campo senão nas férias escolares. Mas não era por isso que não via borboletas.. só via muito menos. :)
Nessas férias do Verão, passei os meus primeiros dias na zona serrana imediatamente a sul do rio Vouga, entre Aveiro e Viseu, ilha temperada na matriz mediterrânica do centro de Portugal e local de imenso interesse lepidopterológico.
Os meus dias, foram passados a apanhar borboletas com uma pequena rede de aquário, daquelas pequenas, verdes. Tarefa árdua... olhando para trás, admiro a minha capacidade e paciência.
De noite, frequentava as luzes da aldeia em busca de borboletas poisadas que eram atraídas pelas mesmas e escapavam aos morcegos habituados a tão constante alimentador.
Certa noite de Agosto apanhei uma borboleta que viria a ser das minhas primeiras "malhas". Inicialmente identifiquei-a, Abraxas sylvata (é relativamente fácil de distinguir das aparentadas) mas a informação era fragmentária em Portugal e não me apercebi da sua importância.
Anos mais tarde, em conversa com o Martin Corley referi essa espécie com a maior naturalidade, como já a tendo observado. Ele levantou a sobrancelha e perguntou-me se eu tinha mesmo a certeza que seria a Abraxas sylvata e não a bem abundante Abraxas pantaria. É que a A. sylvata seria nova para Portugal, à altura só se conhecia dos Pirinéus e País Basco! Eu disse-lhe que tinha a certeza mas tinha de confirmar. De volta a Lisboa, fui procurar na minha colecção por tão importante bicho só que a mesma fora atacada por pequenos terroristas, psocópteros que comem tudo o que é orgânico e nutritivo. Ela estava toda partida, asas separadas do resto mas tinha a confirmação. Mas nunca mais voltou a ser encontrada em Portugal, apesar de ser uma espécie de moderadas dimensões e de haver tanta malta no norte do país às borboletas, actualmente.
Este ano, já dotado de toda a parafernália adequada, voltei mais vezes ao local e no início de Agosto, como em 2001, ela voltou a aparecer! Uma visão estupenda por ser um bicho bonito, por ser a confirmação da existência de uma população, 14 anos depois e por ainda ser o único local em Portugal de onde é conhecida... e no meu quintal! Ei-la.
Abraxas sylvata
Ribeiradio, Viseu
Agosto 2015
Esta espécie foi originalmente publicada, para Portugal, em:
Corley M.F. V, Marabuto E., & Pires P. (2007) New Lepidoptera for the fauna of Portugal (Insecta: Lepidoptera). SHILAP Revista de Lepidopterología, 35, 321–334.