terça-feira, 19 de junho de 2012

A jóia rubra chamada Zygaena nevadensis

Zygaena nevadensis
Bragança, Portugal
Junho 2012

A Z. nevadensis é uma espécie que em Portugal apenas aparece em um par de bolsas de populações, isoladas e este padrão repete-se por toda a sua área de distribuição entre Portugal e o Sul de França e Marrocos. Está estreitamente ligada à planta de que se alimenta na fase larvar (e também adulta!), espécies de Vicia no grupo cracca/ tenuifolia que crescem em prados algo húmidos, clareiras florestais e caminhos algo sombrios.
Em Portugal pode ser encontrada perto de Bragança e no nordeste da Serra da Estrela, perto da Guarda e está, julgo eu, ameaçada pela perda de habitat e alteração das práticas agrícolas tradicionais.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Aricia eumedon: No seu cantinho especial... resiste.


 No âmbito da Europa continente, Portugal é um país periférico longe não só do centro geográfico e político actual mas ainda (mais) da grande fonte de biodiversidade que é a Ásia. Além do mais, está distante de qualquer das grandes zonas geradoras de biodiversidade que são as zonas tropicais, apesar de aqui em Portugal existir um dos climas mais amenos da Europa.

 A nossa biodiversidade ibérica é o resultado da dinâmica muito particular entre o efeito do isolamento geográfico em relação ao resto do território europeu (uma península, com uma grande barreira montanhosa, os Pirinéus, entre nós e a Europa), as alterações climáticas que têm vindo a suceder-se desde o final do Terciário (há 5 milhões de anos), a própria heterogeneidade altitudinal, geológica e de habitats (onde se inclui a influência do Homem) e alguma estocasticidade... ou se quiserem, a sorte!

 É certo que com pesos diferentes em cada altura mas estes factores são decisivos para que a lista de espécies de uma determinada área seja um processo nunca acabado, fluido e apenas instantâneo (se é que a lista total é possível). É que aquilo que consideramos espécies não só é um conceito fluido, sobre o qual alongar-me não é o objectivo como a sua distribuição pulsa ao sabor da alteração dos habitats, das outras espécies, do clima e de novas oportunidades.
 Se por um lado sabemos que existem espécies oportunistas que têm uma grande capacidade de dispersão e colonização do espaço, particularmente espaços abertos e alterados mas muitas espécies especializaram-se em determinadas condições bióticas muito específicas, por vezes condições difíceis de replicar mas onde elas maximizam a sua sobrevivência.


 Entre os exemplos e mais uma vez no mundo das borboletas em Portugal, temos uma das mais raras e localizadas borboletas no nosso país, a Aricia eumedon.

  Tanto quanto parece, em Portugal apenas podemos encontrá-la nas altitudes mais elevadas da serra da Nogueira, perto de Bragança enquanto está distribuída um pouco por toda a Europa até ao leste da Ásia. Contudo, é uma espécie sempre local em populações isoladas umas das outras, aparecendo preferencialmente bosques naturais relativamente húmidos onde haja a planta alimentícia das lagartas em abundância: gerânios perenes do género Geranium.

 Na Serra da Nogueira podemos encontrá-la em Maio e Junho na orla e clareiras do belo carvalhal de Quercus pyrenaica que apresenta o seu expoente máximo nesta zona do país e é também um repositório, um refúgio para muitas outras espécies.
 Em Portugal e por toda a Península a sua distribuição deve ter sido mais alargada no passado, antes do retrocesso dos bosques densos e naturais das zonas serranas e a xerofitização potenciada pelos diversos usos que o Homem deu à floresta.

 Quanto à planta alimentícia, em Portugal é obrigatoriamente o Geranium sanguineum (já que é uma das duas únicas espécies de Geranium perenes de Portugal), uma espécie de distribuição também Eurosiberiana disseminada pela metade norte e alguns enclaves mais atlânticos no sudoeste do país e a borboleta desenrola todo o seu ciclo de vida em torno desta planta!
Não só apenas deposita os ovos nela e as lagartas se alimentam das suas flores como as borboletas adultas quase só se alimentam do nectar das suas flores e aí também se poisam nas alturas de tempo mais adverso! Uma dependência completa que importa preservar mas que a cada ano é mais ameaçada pela perda de habitat disponível em virtude dos incêndios e inadequada gestão florestal e isolamento da população em causa.
Contudo, parece que para já, se as coisas não se alterarem muito no seu pequeno cume, na sua bela Serra coberta de carvalho-negral assente sobre um mosaico de rochas ultrabásicas e xistos verdes a sua sobrevivência está assegurada.